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Friday, October 4, 2013

BERNANOS - Hamilton Alves


Georges Bernanos é um escritor católico francês, com uma de suas obras, talvez a que lhe deu maior projeção, “Diário de um cura de aldeia”, ou “Journal d’un curé de campagne”, mais divulgadas no mundo. O tema, envolvendo um padrezinho de aldeia, às voltas com seus problemas de administração da paróquia, a falta de fé que a rondava, etc., me levou a interessar-me por ela faz tantos anos. Bernanos passou uns dez anos no Brasil, morando em algumas cidades de Minas Gerais, Barbacena, e depois em Cruz das Almas (Croix des Âmes, como passei a chamá-la), nome lindíssimo de cidade e tão condizente, certamente, com a alma cristã desse escritor, que ficou amigo de Otto Lara Resende, católico como ele (os dois se afinaram muito por essa identificação religiosa), de Fernando Sabino, e de Paulo Mendes Campos. Otto escreveu algumas páginas (crônicas e, de certo, resenhas nos jornais em que militou sobre a personalidade carismática de Bernanos e sua obra, uma das quais também avulta em sua bibliografia, “Sob o sol de Satã”). Anuncia-se (Sabático, de 26/11/10) a reedição das obras de Bernanos, com o relançamento da primeira citada.
Procurei lê-la. O estilo de Bernanos prende a atenção logo às primeiras páginas. É leve, enxuto, simples, sem muita filigrana. O personagem é um padrezinho de aldeia ou de um lugar perdido no mundo, que vive às voltas com os problemas de sua pobre paróquia. Sobretudo, percebe que o tédio a devora e que se vê impotente diante dele. Recorre ao pároco principal, um padre mais velho e experiente, que passa a orientá-lo e a dar-lhe a fórmula de poder guiar seu “perdido rebanho”. Mas o padrezinho, que também, além de doente, é alcoólatra, desconfia dos métodos propostos por seu superior ou duvida de sua eficácia.
Então se instala esse dilema crucial para o padrezinho, que vê em seus paroquianos pouca ou nenhuma disposição para ajudá-lo a enfrentar os problemas existentes. Ele mesmo tão fraco diante da imensa falta de fé que ronda sua paróquia.
Não cheguei ao fim do livro. Dei-o de presente a um sacerdote para que bebesse nele o sofrimento e as amarguras do padre de Bernanos.
Nunca me falou do livro quando voltamos a nos ver. Nem lhe cobrei.
            Um amigo, por sinal herético, possuía um exemplar igual ao meu, que me deu. Segundo ele, não ia lê-lo nunca. Em minhas mãos estaria mais bem confiado.
            Não o abri ainda para seguir na leitura, embora Bernanos viesse conduzindo muito bem a narrativa.
Mas sei que, em algum dia, reencetarei a leitura. Quero ver como o padrezinho se sai da dilacerante falta de fé que sufoca sua paróquia. Deus acaba vencendo, certamente, o poder do mal, que Bernanos acredita ser o problema máximo do homem neste mundo.
                                                            

(nov/10)                                                         

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