Georges
Bernanos é um escritor católico francês, com uma de suas obras, talvez a que
lhe deu maior projeção, “Diário de um cura de aldeia”, ou “Journal d’un curé de
campagne”, mais divulgadas no mundo. O tema, envolvendo um padrezinho de
aldeia, às voltas com seus problemas de administração da paróquia, a falta de
fé que a rondava, etc., me levou a interessar-me por ela faz tantos anos.
Bernanos passou uns dez anos no Brasil, morando em algumas cidades de Minas
Gerais, Barbacena, e depois em Cruz das Almas (Croix des Âmes, como passei a
chamá-la), nome lindíssimo de cidade e tão condizente, certamente, com a alma
cristã desse escritor, que ficou amigo de Otto Lara Resende, católico como ele
(os dois se afinaram muito por essa identificação religiosa), de Fernando
Sabino, e de Paulo Mendes Campos. Otto escreveu algumas páginas (crônicas e, de
certo, resenhas nos jornais em que militou sobre a personalidade carismática de
Bernanos e sua obra, uma das quais também avulta em sua bibliografia, “Sob o
sol de Satã”). Anuncia-se (Sabático, de 26/11/10) a reedição das obras de
Bernanos, com o relançamento da primeira citada.
Procurei
lê-la. O estilo de Bernanos prende a atenção logo às primeiras páginas. É leve,
enxuto, simples, sem muita filigrana. O personagem é um padrezinho de aldeia ou
de um lugar perdido no mundo, que vive às voltas com os problemas de sua pobre
paróquia. Sobretudo, percebe que o tédio a devora e que se vê impotente diante
dele. Recorre ao pároco principal, um padre mais velho e experiente, que passa
a orientá-lo e a dar-lhe a fórmula de poder guiar seu “perdido rebanho”. Mas o
padrezinho, que também, além de doente, é alcoólatra, desconfia dos métodos
propostos por seu superior ou duvida de sua eficácia.
Então
se instala esse dilema crucial para o padrezinho, que vê em seus paroquianos
pouca ou nenhuma disposição para ajudá-lo a enfrentar os problemas existentes.
Ele mesmo tão fraco diante da imensa falta de fé que ronda sua paróquia.
Não
cheguei ao fim do livro. Dei-o de presente a um sacerdote para que bebesse nele
o sofrimento e as amarguras do padre de Bernanos.
Nunca
me falou do livro quando voltamos a nos ver. Nem lhe cobrei.
Um amigo, por sinal herético,
possuía um exemplar igual ao meu, que me deu. Segundo ele, não ia lê-lo nunca.
Em minhas mãos estaria mais bem confiado.
Não o abri ainda para seguir na
leitura, embora Bernanos viesse conduzindo muito bem a narrativa.
Mas
sei que, em algum dia, reencetarei a leitura. Quero ver como o padrezinho se
sai da dilacerante falta de fé que sufoca sua paróquia. Deus acaba vencendo,
certamente, o poder do mal, que Bernanos acredita ser o problema máximo do
homem neste mundo.
(nov/10)
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