Devo
ter contado essa história mais de uma vez, mas sempre com detalhes novos. Diz
bem o provérbio: “quem conta um conto acrescenta outro”.
Que
eu saiba, só exerceu duas funções ou atividades na vida: a de escritor e
jornalista.
Nas
duas, alcançou um grau de prestigio muito grande. Comecei a ler “Retrato na
gaveta” uma meia dúzia de vezes. Nunca fui adiante. A história, pelo que li,
passa-se numa escola, no conflito entre alunos e diretor.
Suponho
que deva ser uma espécie de autobiografia. Se não me engano, o pai dele foi
diretor de colégio.
Mas
o lia nos artigos e crônicas nos jornais, por tantos que passou. Por último,
colaborou na “Folha”, de que colhe umas cem para editar um livro, com o título
“Bom dia para nascer” (nasceu em 1º. de maio, não me ocorre o ano). Se é um bom
ou mau dia para nascer, só o Otto com a exuberância de sua fantasia poderia
explicar.
Depois
de sua bem sucedida trajetória na imprensa, alçou-se à notoriedade quando
Nelson Rodrigues lhe colocou o nome numa peça, “Bonitinha, mas ordinária ou
Otto Lara Rezende”. Não sei como Otto se viu como nome de peça de teatro do
talvez mais famoso dramaturgo do país. Nelson o achava inteligentíssimo.
Numa
farmácia de uma cidade do interior fui comprar uma aspirina e numa estante de
metal, que tinha muitos livros expostos, dei com um livro de contos dele, “As
pompas do mundo”. Nunca o li.
Acho
que a atividade de jornalista rouba a de escritor. É o que dizia Gertrude Stein
a Hemingway: “Você tem que escolher entre ser jornalista e escritor; as duas
coisas juntas não dão certo”. Creio que Gertrude tinha razão. A atividade
intensa de jornalista de Otto prejudicou-se em seu trabalho de escritor. Não lhe tirando, porém, todo brilho.
Uma
única vez nos encontramos (foi aqui, no Hotel Maria do Mar, em que se reunia
com alguns amigos, vindo em companhia de Fernando Sabino e Antonio Houaiss, só
que este não apareceu nessa ocasião).
Disse-lhe
logo que lhe fui apresentado ou me apresentei a ele:
-
Adquiri seu livro “As pompas do mundo” numa farmácia.
-
Numa farmácia? – indagou admiradíssimo.
-
Sim, encontrei–o numa estante rotativa de metal.
Travava
com uma jovem uma conversa muito rarefeita, pelo que, a certa hora, foi chamado
a atenção por Fernando Sabino:
-
Otto, baixa ao nível dos mortais comuns.
Otto
revelou-se uma pessoa extremamente simpática. Na despedida, disse-me que,
quando fosse ao Rio, o visitasse. Tomei outros rumos. A visita nunca se
concretizou.
(abr/11).
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