Que
é que sei de Beckett? Pouco, muito pouco. Sei que formou na resistência francesa,
na segunda guerra mundial, quando da invasão nazista na França. Hitler, quando
se deparou com Paris, deve ter achado uma grande petulância se meter lá dentro.
Não tinha suficiente estofo para tamanha grandeza. Ou talvez nem olhasse a
coisa desse ângulo.
Mas
voltemos a Beckett.
Sei
que conheceu a mulher com quem veio a casar por ter sofrido um acidente de
bicicleta (Paris deve ser a cidade ideal para se andar de bicicleta por ser
inteiramente plana), que o ajudou a erguer-se e a recuperar-se. Desde então não
se separaram mais.
Que
ganhou o Nobel de literatura não é novidade para ninguém.
Talvez
não tenha sabido que a atriz Cacilda Becker, que interpretou o papel de
Estragon, na peça de sua autoria, “Esperando Godot”, ao lado de seu marido
Walmor Chagas, tenha morrido, em pleno palco, de aneurisma.
Descobri
uma foto de Beckett andando sozinho pelas ruas de Paris, carregando às costas
uma sacola enorme. Era um de seus prazeres confessos – andar.
Como
dizia outro escritor de nomeada, Patrick Suskind, andar envolve uma atividade
de teor sedativo ou lúdico (di-lo em The Pidgeon ou A Pomba) – uma das melhores novelas
que li.
Fui
assistir “Fim de Partida”, um texto que tentei ler em espanhol, mas me enjoou
de saída. Fui ver a peça bem mais tarde, com Edson Celulari e Cacá Carvalho nos
papéis de Hamm e Clov, revezando-se em um e outro. Saíram-se às mil maravilhas
tanto num quanto noutro. Nunca esperei que pudessem produzir um espetáculo
majestoso de teatro.
Fui
ao teatro nessa ocasião sem nutrir grande esperança de ver algo que me
encantasse.
Beckett
(todo mundo que o conhece ou já leu algo a seu respeito o sabe) era
absolutamente cético. Mas era atormentado pela idéia tenaz da existência de
Deus, de que nunca conseguiu se libertar inteiramente. Sua peça “Esperando Godot” bem o reflete. A
palavra Godot é uma corruptela de “God”, que significa Deus em inglês. Ou ainda em
alemão “Got”.
Beckett
revolucionou a cena mundial com suas peças absurdas. E isso parece que é o
bastante para colocá-lo no panteão dos grandes dramaturgos de todos os tempos.
(set/10).
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