Findava
a tarde, o sol ia se pondo atrás do morro, com a terra em seu curso em volta de
si mesma e do sol, nos conhecidos movimentos de rotação e translação, quando um
homem de meia idade (poderia ter uns 60 anos) sentara-se num banco talvez com o
fito de apreciar esse momento de passagem entre o dia que se finda e a noite
que chega.
Há
quem não dê a menor importância a esse fato singelo cheio de mistério e beleza.
O
homem tinha os cabelos grisalhos e compridos, vestia uma camisa de manga
comprida, uma calça escura, um boné e calçava um chinelo meio cambado e já de
muito uso. Olhava fixamente para o sol, vendo-o pouco a pouco sumir mais uma vez.
Havia
uma boa sombra de uma amendoeira e sentar-se no banco para apreciar esse
espetáculo me pareceu a única coisa interessante que, naquele momento, no bulício
da cidade, se poderia fazer.
O
banco era o único disponível num raio de duzentos metros, razão porque me
sentei ali sem qualquer constrangimento ou cerimônia. Poderia se sentir molestado
no momento em que me alojei ao lado dele.
Mas
percebi que não moveu um músculo quando isso ocorreu.
Agora,
frente ao por do sol, éramos dois a assistir a esse espetáculo cósmico.
Podia provocá-lo para um papo, mas
sua aparência não era muito simpática ou não revelava nenhuma disposição para
uma conversa leve, até poética ou mesmo filosófica sobre o fenômeno.
Enquanto isso, pessoas e veículos
iam e vinham pela longa avenida.
Éramos os únicos, àquela hora, que
nos ocupávamos do por do sol.
Ardiam-lhe certamente os olhos de
tanto fixá-los no sol. O mesmo me sucedia. Mas não arredava os olhos dele,
parecendo-lhe ser algo de extraordinário, que só em um único momento no dia se
podia ver.
Ocorreu-me
lembrar-lhe que o Pequeno Príncipe, personagem de Saint-Exupéry, amava o por do
sol e não cansava de vê-lo por-se.
Mas
logo me adverti que o homem, na sua simplicidade, tal qual o via na forma de
vestir-se, nada saberia da existência de zé perri. Ou de seu personagem famoso,
conhecido em todos os quadrantes da terra.
Não trocamos nem uma só
palavra. Ficáramos os dois, em nosso
mutismo, deparando-nos com esse esplendor do por do sol.
Quando
escureceu e já então o sol baixara, o homem ergueu-se (ou saiu de seu êxtase) e,
tão silente como se revelara, silente se foi pela ampla avenida.
(abr/10).
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