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Sunday, October 6, 2013

DOIS HOMENS DIANTE DO POR DO SOL - Hamilton Alves

  
Findava a tarde, o sol ia se pondo atrás do morro, com a terra em seu curso em volta de si mesma e do sol, nos conhecidos movimentos de rotação e translação, quando um homem de meia idade (poderia ter uns 60 anos) sentara-se num banco talvez com o fito de apreciar esse momento de passagem entre o dia que se finda e a noite que chega.
Há quem não dê a menor importância a esse fato singelo cheio de mistério e beleza.
O homem tinha os cabelos grisalhos e compridos, vestia uma camisa de manga comprida, uma calça escura, um boné e calçava um chinelo meio cambado e já de muito uso. Olhava fixamente para o sol, vendo-o pouco a pouco sumir mais uma vez.
Havia uma boa sombra de uma amendoeira e sentar-se no banco para apreciar esse espetáculo me pareceu a única coisa interessante que, naquele momento, no bulício da cidade, se poderia fazer.
O banco era o único disponível num raio de duzentos metros, razão porque me sentei ali sem qualquer constrangimento ou cerimônia. Poderia se sentir molestado no momento em que me alojei ao lado dele.
Mas percebi que não moveu um músculo quando isso ocorreu.
Agora, frente ao por do sol, éramos dois a assistir a esse espetáculo cósmico.
            Podia provocá-lo para um papo, mas sua aparência não era muito simpática ou não revelava nenhuma disposição para uma conversa leve, até poética ou mesmo filosófica sobre o fenômeno.
            Enquanto isso, pessoas e veículos iam e vinham pela longa avenida.
            Éramos os únicos, àquela hora, que nos ocupávamos do por do sol.
            Ardiam-lhe certamente os olhos de tanto fixá-los no sol. O mesmo me sucedia. Mas não arredava os olhos dele, parecendo-lhe ser algo de extraordinário, que só em um único momento no dia se podia ver.
Ocorreu-me lembrar-lhe que o Pequeno Príncipe, personagem de Saint-Exupéry, amava o por do sol e não cansava de vê-lo por-se.
Mas logo me adverti que o homem, na sua simplicidade, tal qual o via na forma de vestir-se, nada saberia da existência de zé perri. Ou de seu personagem famoso, conhecido em todos os quadrantes da terra.
            Não trocamos nem uma só palavra.  Ficáramos os dois, em nosso mutismo, deparando-nos com esse esplendor do por do sol.
Quando escureceu e já então o sol baixara, o homem ergueu-se (ou saiu de seu êxtase) e, tão silente como se revelara, silente se foi pela ampla avenida.

(abr/10).


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